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quarta-feira, 13 de março de 2013

A Cabana- Epílogo

Bom, aí está. Pelo menos como me foi contado. Tenho certeza
de que algumas pessoas se perguntarão se a história de Mack
aconteceu de verdade ou se o acidente e a morfina simplesmente o
deixaram meio confuso. Mack continua levando sua vida normal
e produtiva e teima em garantir que cada palavra da história é
verdadeira. Todas as mudanças em sua vida, segundo ele, são
provas suficientes. A Grande Tristeza se foi e ele passa a maior
parte dos dias com um profundo sentimento de alegria.
Assim, a questão que eu me coloco enquanto redijo este texto
é: como terminar uma história destas? Talvez eu possa fazer isso
falando um pouco das transformações que ela causou em mim.
Como declarei no prefácio, a história de Mack me mudou. Não
creio que haja um aspecto da minha vida, sobretudo de meus
relacionamentos, que não tenha sido profundamente tocado e
alterado de modo importante. Se eu acho que é verdade?
Quero que tudo seja verdade. Talvez alguma parte não seja
verdadeira num determinado sentido, mas ainda assim é verdade.
Você sabe o que quero dizer. Acho que Sarayu vai ajudá-lo a
entender.
E Mack? Bom, ele é um ser humano que continua passando
por um processo de mudança, como todos nós. Só que ele aceita
bem as mudanças, enquanto que eu muitas vezes resisto a elas.
Noto que ele ama mais e melhor do que a maioria das pessoas,
é rápido em perdoar e ainda mais rápido em pedir perdão. As
transformações que ele sofreu provocaram na família e nos amigos
efeitos que nem sempre foram fáceis de entender. Mas devo lhe
dizer que nunca conheci outro adulto que leve a vida com
tanta simplicidade e alegria. De algum modo, ele virou criança de
novo. Ou, para explicar melhor, ele virou a criança que nunca teve
permissão de ser. Uma pessoa confiante e cheia de entusiasmo.
Ele consegue acolher até mesmo os tons mais escuros da
vida, vendo-os como parte de uma tapeçaria incrivelmente rica e
profunda, tecida magistralmente por invisíveis mãos de amor.
Enquanto escrevo isto, Mack está sendo testemunha no
julgamento do Matador de Meninas.
Ele quer fazer uma visita ao acusado, mas ainda não teve
permissão. Porém está determinado a vê-lo, mesmo que isso só
aconteça depois do veredicto.
Se você tiver chance de passar um tempo com Mack, logo vai
perceber que ele está esperando uma nova revolução, uma
revolução de amor e gentileza — uma revolução provocada por
Jesus, pelo que ele fez por nós e continua a fazer em um mundo
que tem fome de reconciliação e de um local que possa chamar de
lar. Não é uma revolução que pretenda derrubar nada, ou, se
derrubar, fará isso de um modo que jamais poderemos imaginar
antecipadamente. Serão os poderes silenciosos e cotidianos de
morrer, servir, amar e rir, de ternura simples e gentileza gratuita,
porque, se alguma coisa importa, todas as coisas importam. E um
dia, quando tudo for revelado, cada um de nós ficará de joelhos e
confessará, por obra e graça de Sarayu, que Jesus é o Senhor de
toda a Criação, para a glória de Papai.
Ah, uma última coisa. Estou convencido de que Mack e Nan
ainda vão lá algumas vezes, à cabana, só para ficarem a sós. Não
me surpreenderia se soubesse que ele anda até o velho cais, tira os
sapatos e as meias e, você sabe, põe os pés na água só para ver
se... bem, você sabe...
Willie

* * *

A Terra repleta de céu,
E cada arbusto comum incendiado com
Deus,
Mas só aquele que vê tira os sapatos;
Os outros se sentam ao
redor e colhem amoras.

— Elizabeth Barrett Browning

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