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quarta-feira, 13 de março de 2013

A Cabana- Capítulo 10 – Andando sobre a água

Novo mundo — grande horizonte.
Abra os olhos e veja que é verdade.
Novo mundo —do outro lado das assustadoras
ondas azuis.
— David Wilcox

Jesus terminou de lixar o último canto do que parecia um
pequeno baú que estava numa bancada da carpintaria. Passou os
dedos pela borda lisa, sorriu satisfeito e pousou a lixa. Saiu pela
porta espanando o pó do jeans e da camiseta enquanto Mack se
aproximava.
— Olá, Mack! Eu estava dando os últimos retoques no meu
projeto para amanhã. Gostaria de dar uma volta?
Mack pensou no tempo que haviam passado juntos na
véspera sob as estrelas.
— Se você vai, eu gostaria, sim — respondeu. — Por que
vocês vivem falando sobre amanhã?
— É um grande dia para você, um dos motivos pelos quais
está aqui. Vamos. Há um lugar especial que quero lhe mostrar, do
outro lado do lago, e o panorama é indescritível. De lá se podem
ver alguns dos picos mais altos.
— Deve ser fantástico! — respondeu Mack entusiasmado.
— Parece que você pegou o lanche, então podemos ir.
Em vez de se desviar para algum lado do lago, onde devia
haver uma trilha, Jesus foi direto ao cais. O dia estava luminoso e
lindo. O sol esquentava a pele, mas não demais, e uma brisa fresca
e perfumada acariciava o rosto dos dois, suave e amorosamente.
Mack imaginou que pegariam uma das canoas presas às
estacas do cais e ficou surpreso quando Jesus não hesitou ao
passar pela última, indo diretamente para o fim do píer. Ao chegar
no final, ele se virou para Mack e riu.
— Primeiro você — disse com um floreio e uma reverência.
— Está brincando, não é? — reagiu Mack. — Achei que íamos
andar e não nadar.
— E vamos. Só pensei que atravessando o lago levaria menos
tempo do que rodeando.
— Não sou um nadador fantástico e, além disso, a água
parece muito fria — reclamou Mack.
— Bom — Jesus cruzou os braços —, nós dois sabemos que
você é um nadador muito capaz e que já foi salva-vidas. A água
está fria e o lago é fundo. Mas não estou falando em nadar. Quero
atravessar andando com você.
Mack finalmente se deu conta do que Jesus estava sugerindo.
Tratava-se de andar sobre a água. Antecipando sua hesitação,
Jesus afirmou: — Vamos, Mack. Se Pedro conseguiu...
Mack riu nervosamente. Para ter certeza, perguntou de novo:
— Você quer que eu ande sobre a água até o outro lado. É
isso que está dizendo, não é?
— Você entende rápido, Mack. Tenho certeza de que ninguém
consegue enganá-lo. Venha, é divertido! — Ele riu.
Mack foi até a borda do cais e olhou para baixo. A água batia
suavemente apenas uns 30 centímetros abaixo de onde ele estava,
mas era como se fossem 30 metros. A distância parecia enorme.
Mergulhar seria fácil, ele fizera isso mil vezes, mas como se desce
de um cais para a superfície da água? Olhou para Jesus, que
ainda estava rindo.
— Pedro teve o mesmo problema: como sair do barco? É como
descer de um degrau de escada. Nada de mais.
De novo Mack olhou para a água e de volta para Jesus.
— Então por que é tão difícil para mim?
— Diga do que você tem medo, Mack.
— Bem, vejamos. Do que tenho medo? Bem, tenho medo de
parecer idiota. Tenho medo de você estar se divertindo às minhas
custas e de afundar como uma pedra. Imagino que...
— Exatamente — interrompeu Jesus. — Você imagina. A
imaginação é uma capacidade poderosa! É um poder que o torna
muito parecido conosco. Mas, sem sabedoria, a imaginação é uma
professora cruel. Quero lhe fazer uma pergunta: você acha que
os humanos foram criados para viver no presente, no passado ou
no futuro?
— Bom — disse Mack, hesitando. — Acho que a resposta
mais óbvia é que fomos criados para viver no presente. Estou
errado?
Jesus deu um risinho.
— Relaxe, Mack, isso não é um teste, é uma conversa. Você
está corretíssimo, por sinal. Mas agora me diga onde você passa a
maior parte do tempo em sua imaginação: no presente, no passado
ou no futuro?
Mack pensou um momento antes de responder.
— Acho que eu passo muito pouco tempo no presente. Passo
grande parte dele no passado, mas na maior parte do tempo estou
tentando adivinhar o futuro.
— Você não é diferente da maioria das pessoas. Quando
estou com vocês, vivo no presente. Não no passado, se bem que
muita coisa pode ser lembrada e aprendida ao se olhar para trás,
mas somente para uma visita, não para uma estada demorada.
E certamente não vivo no futuro que você visualiza ou imagina.
Mack, você percebe que sua imaginação do futuro, que é quase
sempre ditada por algum tipo de medo, raramente me coloca lá
com você, se é que me coloca?
De novo Mack parou e pensou. Era verdade. Ele passava um
bocado de tempo se aborrecendo e se preocupando com o futuro, e
em sua imaginação o futuro geralmente era muito sombrio,
deprimente e mesmo horrível. E Jesus também estava correto
ao dizer que, do modo como Mack imaginava o futuro, Deus estava
sempre ausente.
— Por que faço isso? — perguntou Mack.
É sua tentativa desesperada de conseguir algum controle
sobre algo que você não pode controlar. É impossível ter poder
sobre o futuro, porque ele não é real, e jamais será.
Você tenta brincar de Deus imaginando que o mal que teme
pode se tornar realidade e depois tenta fazer planos para evitar
aquilo que teme.
— É basicamente o que Sarayu esteve dizendo. Então por que
tenho tanto medo da vida?
— Porque não acredita. Não sabe que nós o amamos. A
pessoa que vive dominada pelos medos não encontra liberdade no
meu amor. Não estou falando de medos racionais, ligados a perigos
reais, e sim de medos imaginários, e especialmente da projeção
desses medos no futuro. À medida que dá lugar a esses medos,
você não acredita que eu sou bom, nem sabe, no fundo do seu
coração, que eu o amo. Você pode até falar disso, mas não sabe.
Mack olhou de novo para a água e soltou um suspiro enorme,
que saiu do fundo da alma.
— Há um longo espaço para eu percorrer.
— Só uns 30 centímetros, é o que me parece — riu Jesus,
pondo a mão no ombro de Mack. Ele só precisava disso para
descer do cais. Para tentar ver a água como sólida e não se
atrapalhar com o movimento dela, olhou para a margem distante e
levantou os sacos do lanche.
O pouso foi mais suave do que ele havia pensado. Seus
sapatos ficaram molhados no mesmo instante, mas a água não
subiu nem mesmo até os tornozelos. O lago ainda se movia ao seu
redor e ele quase perdeu o equilíbrio por causa disso. Era
estranho.
Olhando para baixo, parecia que seus pés estavam sobre algo
sólido, mas invisível.
Virou-se e viu Jesus ao seu lado segurando os sapatos e as
meias numa das mãos e sorrindo.
— Nós sempre tiramos os sapatos e as meias antes — disse
ele rindo.
Mack balançou a cabeça rindo também enquanto se sentava
de novo na beira do cais.
— Acho que vou fazer isso.
Tirou os sapatos, espremeu as meias e enrolou as pernas da
calça.
Partiram levando os calçados e as sacolas e caminharam para
a margem oposta, a cerca de 800 metros de distância. A água era
fresca e revigorante e fazia subir arrepios pela coluna.
Caminhar sobre a água com Jesus parecia o modo mais
natural de atravessar um lago, e Mack ria de orelha a orelha só de
pensar no que estava fazendo.
— Isso é absolutamente ridículo e impossível, você sabe —
exclamou finalmente.
— Claro — confirmou Jesus, rindo também.
Chegaram rapidamente à outra margem e Mack parou pouco
antes de atingi-la. À esquerda viu uma linda cachoeira se
derramando pela borda de um penhasco e caindo até o lago. Ao
lado da cachoeira havia uma campina cheia de flores selvagens
que se espalhavam ao acaso, semeadas pelo vento. Tudo era
espantoso e Mack ficou um momento absorto. Uma imagem de
Missy relampejou em sua mente, mas não se fixou.
Uma praia de pedrinhas esperava-os e, atrás dela, uma
floresta densa e rica erguia-se até a base de uma montanha
encimada pela brancura da neve recém-caída. Mack saiu da água
para as pedras pequenas, indo cautelosamente em direção a um
tronco tombado. Ali sentou-se, torceu as meias de novo e colocouas
ao lado dos sapatos para secar ao sol de quase meio-dia.
Só então olhou para o outro lado do lago. A beleza era
estonteante. Podia ver a cabana, com a fumaça subindo
preguiçosamente da chaminé de tijolos vermelhos delineada contra
os verdes do pomar e da floresta. Fazendo tudo parecer minúsculo,
uma enorme cordilheira pairava acima e atrás, como sentinela
montando guarda. Mack sentou-se ao lado de Jesus e impregnouse
da sinfonia visual.
— Você faz um grande trabalho! — disse baixinho.
— Obrigado, Mack, e você viu muito pouco. Por enquanto, a
maior parte das coisas que existem no universo só será vista e
desfrutada por mim como telas especiais guardadas nos fundos do
ateliê de um pintor. Mas um dia... E você pode imaginar o
que seria se a Terra não estivesse em guerra, lutando tanto para
simplesmente sobreviver?
— O que você quer dizer exatamente?
Nossa Terra é como uma criança que cresceu sem pais, não
tendo ninguém para guiá-la e orientá-la. — Enquanto Jesus falava,
sua voz se intensificava numa angústia contida. — Alguns
tentaram ajudá-la, mas a maioria procurou simplesmente usá-la.
Os seres humanos, que receberam a tarefa de guiar amorosamente
o mundo, em vez disso o saquearam sem qualquer consideração. E
pensaram pouco nos próprios filhos, que vão herdar sua falta de
amor. Por isso usam e abusam da Terra e, quando ela estremece
ou reage, se ofendem e levantam os punhos contra Deus.
— Você é ecologista? — perguntou Mack, com um certo tom
de acusação.
— Esta imensa bola verde-azulada no espaço negro, cheia de
beleza mesmo agora, espancada, abusada e linda.
— Conheço esta música. Você deve se importar muito com a
Criação.
— Bom, essa bola verde-azulada no espaço negro pertence a
mim — declarou Jesus enfaticamente.
Depois de um momento eles abriram as sacolas do lanche.
Papai as enchera de sanduíches e guloseimas e os dois comeram
com grande apetite.
— Então por que vocês não consertam? — perguntou Mack,
mastigando o sanduíche. — Quero dizer, a Terra.
— Por que nós a demos para vocês.
— Não podem pegá-la de volta?
— Claro que poderíamos, mas então a história acabaria antes
de ser consumada.
Mack deu um olhar vazio para Jesus.
— Já notou que, mesmo que me chamem de Senhor e Rei, eu
realmente nunca agi desse modo com vocês? Nunca assumi o
controle de suas escolhas nem os obriguei a fazer nada, mesmo
quando o que estavam fazendo era destrutivo para vocês mesmos e
para os outros?
Mack olhou de volta para o lago antes de responder.
— Eu preferiria que às vezes você assumisse o controle. Teria
economizado um bocado de dor para mim e para as pessoas de
quem eu gosto.
Forçar minha vontade sobre a de vocês é exatamente o que o
amor não faz. Os relacionamentos verdadeiros são marcados pela
aceitação, mesmo quando suas escolhas não são úteis nem
saudáveis. Esta é a beleza que você vê no meu relacionamento
com Abba e Sarayu. Nós somos de fato submetidos uns aos outros,
sempre fomos e sempre seremos. Papai é tão submetida a mim
quanto eu a ela, ou Sarayu a mim, ou Papai a ela.
Submissão não tem a ver com autoridade e não é obediência.
Tem a ver com relacionamentos de amor e respeito. Na verdade
somos igualmente submetidos a você.
Mack ficou surpreso.
— Como pode ser? Por que o Deus do universo quereria se
submeter a mim?
— Porque queremos que você se junte a nós em nosso círculo
de relacionamento. Não quero escravos, quero irmãos e irmãs que
compartilhem a vida comigo.
— E é assim que você quer que nós amemos uns aos outros,
não é? Quero dizer, entre maridos e esposas, pais e filhos. Em
qualquer relacionamento.
— Exato! Quando sou sua vida, a submissão é a expressão
mais natural do meu caráter e da minha natureza, e será a
expressão mais natural de sua nova natureza dentro
dos relacionamentos.
— E o que eu mais queria era um Deus que simplesmente
consertasse tudo para que ninguém se ferisse. — Mack balançou a
cabeça ao se dar conta disso. — Mas não sou bom no campo dos
relacionamentos, não sou como Nan.
Jesus terminou de comer o sanduíche, fechou o saco do
lanche e colocou-o ao lado, no tronco. Limpou algumas migalhas
presas ao bigode e à barba curta. Depois, pegando um pedaço de
pau ali perto, começou a desenhar na areia, enquanto continuava:
— Isso é porque, como a maioria dos seres humanos, você
procura realizar-se pelos seus feitos, e Nan, como a maioria das
mulheres, pelos relacionamentos. É mais naturalmente a
linguagem dela. — Jesus parou para contemplar uma águiapescadora
mergulhar no lago a menos de 20 metros deles e, a
seguir, lentamente elevar-se com as garras segurando uma grande
truta que ainda lutava para escapar.
— Isso significa que eu não tenho saída? Realmente quero o
que vocês três compartilham, mas não faço idéia de como chegar
lá.
— Há muita coisa obstruindo o seu caminho agora, Mack,
mas você não precisa continuar vivendo assim.
— Sei que isso é mais verdadeiro agora que Missy se foi, mas
nunca foi fácil para mim.
— Você não está simplesmente lidando com o assassinato de
Missy. Há uma reviravolta maior que torna difícil compartilhar da
nossa vida. O mundo está partido porque no Éden vocês
abandonaram o relacionamento conosco para afirmar a
própria independência. A maioria dos humanos expressou isso
voltando-se para o trabalho das mãos e para o suor do rosto em
busca da identidade, do valor e da segurança. Ao optar por definir
o que é bom e o que é mau, vocês buscam determinar seu próprio
destino. Foi essa reviravolta que causou tanta dor.
Jesus se firmou no pedaço de madeira para se levantar e
parou enquanto Mack terminava de comer o sanduíche e se
levantava também. Juntos, começaram a andar pela margem do
lago.
— Mas isso não é tudo. O desejo da mulher... na verdade a
palavra é a "virada". Assim, a virada da mulher não foi para a obra
de suas mãos e sim para o homem, e a reação dele foi "dominá-la",
assumir o poder sobre ela, tornar-se o governante. Antes dessa
escolha, a mulher encontrava sua identidade, sua segurança e sua
compreensão do bem e do mal apenas em mim, da mesma forma
que o homem.
— Não é de espantar que eu me sinta um fracasso tão grande
com Nan. Não consigo ser isso para ela.
— Você não foi feito para ser. E, ao tentar, estará brincando
de Deus.
Mack se abaixou, pegou uma pedra chata e atirou-a
ricocheteando sobre o lago.
— Há alguma saída para isso?
— É simples demais, mas nunca é fácil para vocês. A saída é
voltar-se para mim. Abrir mão de seus hábitos de poder e
manipulação e simplesmente voltar-se para mim. — Jesus parecia
estar implorando. — As mulheres, em geral, acham difícil dar as
costas para um homem e parar de exigir que ele atenda às suas
necessidades, que proporcione segurança e proteja a identidade
delas. Acham difícil retornar para mim. Os homens, por sua vez,
acham muito difícil dar as costas para as obras de suas
mãos, para sua busca de poder, segurança e importância. Também
acham difícil retornar para mim.
— Sempre me perguntei por que os homens estão no
comando — ponderou Mack. — Os homens parecem ser a causa
de muita dor no mundo. Cometem a maior parte dos crimes e
muitos são contra mulheres e — ele fez uma pausa — crianças.
— As mulheres — continuou Jesus enquanto pegava uma
pedra e também a fazia ricochetear na água — nos deram as
costas em busca de outro relacionamento, ao passo que os homens
viraram-se para eles mesmos e para o chão. O mundo, em vários
sentidos, seria um lugar muito mais tranqüilo e gentil se as
mulheres governassem. Haveria muito menos crianças sacrificadas
aos deuses da cobiça e do poder.
— Então elas teriam realizado melhor esse papel.
— Melhor, talvez, mas ainda assim não seria suficiente. O
poder nas mãos dos seres humanos independentes, sejam homens
ou mulheres, corrompe. Mack, você não vê que representar papéis
é o contrário do relacionamento? Queremos que homens e
mulheres sejam parceiros, iguais face a face, cada qual único e
diferente, distintos em gênero mas complementares, e cada um
recebendo o poder unicamente de Sarayu, de quem se origina todo
o poder e autoridade verdadeiros. Lembre-se, minha identidade
não se baseia em desempenho e eu não preciso me encaixar nas
estruturas feitas pelos humanos. Eu tenho a ver com ser.
À medida que você cresce no relacionamento comigo, o que fizer
simplesmente refletirá quem você realmente é.
— Mas você veio na forma de homem. Isso não significa
alguma coisa?
— Sim, mas não o que muitos imaginam. Vim como homem
para completar a imagem maravilhosa de como fizemos vocês.
Desde o primeiro dia escondemos a mulher no homem, de modo
que na hora certa pudéssemos retirá-la de dentro dele. Não
criamos o homem para viver sozinho. A mulher foi projetada desde
o início. Ao tirá-la de dentro dele, de certa forma ele a deu à luz.
Criamos um círculo de relacionamento como o nosso, mas para os
humanos. Ela saindo dele e agora todos os homens, inclusive
eu, nascidos dela, e tudo se originando ou nascendo de Deus.
— Ah, entendi — exclamou Mack, interrompendo o gesto de
atirar outra pedra. — Se a mulher fosse criada primeiro, não
haveria um círculo de relacionamento e não se tornaria possível
um relacionamento totalmente igual, cara a cara, entre o homem e
a mulher. Certo?
— Certíssimo, Mack. — Jesus olhou-o e riu. — Nosso desejo
foi criar um ser que tivesse uma contrapartida totalmente igual e
poderosa: o homem e a mulher. Mas sua independência, com a
busca de poder e de realização, na verdade destrói o
relacionamento que seu coração deseja.
— Aí está de novo — disse Mack, procurando uma pedra mais
chata. — A questão sempre volta ao poder e a como ele é oposto ao
relacionamento que vocês têm entre si. Eu adoraria experimentar
isso com vocês e com Nan.
— E por essa razão está aqui.
— Gostaria que ela estivesse também.
— Ah, o que poderia ter sido! — meditou Jesus.
Mack não teve idéia do que ele queria dizer. O silêncio se
instalou por alguns minutos, interrompido pelo som leve das
pedras ricocheteando na água.
Jesus parou antes de jogar mais uma pedra.
— Uma última coisa que eu quero que você lembre desta
conversa, Mack, antes de você ir.
Ele jogou a pedra. Mack levantou os olhos, surpreso.
— Antes de eu ir?
Jesus ignorou a pergunta.
— Mack, assim como o amor, a submissão não é algo que
você pode praticar, especialmente sozinho. Fora de minha vida
dentro de você, você não pode se submeter a Nan, ou aos seus
filhos, ou a mais ninguém, inclusive Papai.
— Quer dizer — exclamou Mack, um tanto sarcástico — que
eu não posso simplesmente perguntar: "O que Jesus faria?"
Jesus deu um risinho.
— Boas intenções, má idéia. Não deixe de me contar como a
coisa funciona para você, se escolher esse caminho. — Parou e
ficou sério. — É verdade, minha vida não se destinava a tornar-se
um exemplo a copiar. Ser meu seguidor não significa tentar "ser
como Jesus", significa matar sua independência. Eu vim lhe
dar vida, vida real, minha vida. Nós viveremos nossa vida dentro
de você, de modo que você comece a ver com nossos olhos, ouvir
com nossos ouvidos, tocar com nossas mãos e pensar como nós.
Mas nunca forçaremos essa união. Se você quiser fazer as coisas
do seu jeito, tudo bem. O tempo está a nosso favor. E, por falar em
tempo — Jesus virou-se e apontou para o caminho que levava até
a floresta no fim da clareira —, você tem um compromisso. Siga
aquele caminho e entre onde ele acaba. Vou esperar aqui.
Por mais que quisesse, Mack soube que não adiantaria tentar
prosseguir na conversa.
Num silêncio pensativo, calçou as meias e os sapatos. Não
estavam totalmente secos, mas ofereciam algum conforto.
Levantou-se sem dizer mais nada, foi na direção do fim da praia,
parou um minuto para olhar de novo a cachoeira, pulou por cima
do córrego e entrou na floresta por um caminho bem cuidado e
nítido.

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